A ASCENSÃO DE MARROCOS
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Enquanto o seu principal rival regional, o presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, vive recolhido no respetivo palácio, por causa da idade e também das doenças que o acometem, o rei Mohamed VI, do Marrocos, põe em marcha uma nova visão estratégica cujo objetivo é afirmar o país como uma nova potência regional africana e um parceiro do qual as principais potências internacionais não poderão prescindir.
Embora, e ao contrário da Argélia, nunca tenha contado com o recurso do petróleo, o Marrocos é presentemente o maior investidor regional no continente, depois da África do Sul. Um outro recurso natural, no entanto, é usado por Marrocos para expandir-se pelo continente: os fosfatos. De grande utilidade na agricultura, o Marrocos, que é o terceiro produtor mundial desse recurso, criou uma empresa para distribui-lo ou produzi-lo localmente em 14 países do continente, alegando querer promover uma “revolução verde” em África. Um dos problemas, contudo, é que a maioria dos fosfatos “marroquinos” situa-se no território do Sara Ocidental, que Rabat disputa com a Frente Polisário.
Seja como for, o crescente peso económico do Marrocos foi determinante para o regresso do país à União Africana, confirmada unanimemente e sem necessidade de votação na última cimeira da organização, realizada no mês passado em Adis Abeba, capital da Etiópia.
Ao mesmo tempo que procura ampliar a sua presença no resto do continente africano, o Marrocos aproxima-se da China – país que há muito se deu conta que a África é o continente com maiores recursos naturais e com menos meios para exporta-los – e da Rússia, a fim de diminuir a sua dependência do Ocidente.
As ambições marroquinas terão de confrontar-se, inevitavelmente, com a questão do Saara Ocidental, antiga colônia espanhola situada entre a Argélia e o Marrocos, anexada por Rabat em 1976, quando os espanhóis a abandonaram. Desde logo, em África, muitos países continuam a reconhecer a existência da República Árabe Sarauí Democrática (RASD), o que poderá afetar a estratégia do Marrocos de se afirmar como uma nova potência africana. Por seu turno, a União Europeia também tem pressionado o Marrocos para realizar o referendo ordenado pela ONU acerca da independência do Saara Ocidental.
Internamente, o Marrocos, que conseguiu evitar o alastramento das “primaveras árabes” para o interior das suas fronteiras, continua a aplicar, aparentemente com sucesso, a sua fórmula politico-constitucional peculiar: uma espécie de partilha de poder entre o governo eleito e o rei, cabendo a este último um papel determinante, em particular nas áreas-chave da governação.